Com esse texto, capturado do blog do presidente na ONG Brasil Sem Grades, nos despedimos por um breve período 10 (dez) dias. Retornaremos pouco depois do carnaval, quando Diamantina voltar a proporcionar ares civilizados.
"Elvis não morreu" - por Luiz Fernando Oderich
"Ilustríssimo Senhor Doutor Juiz de Direito...
Vara de Execução Criminal...
Permita-me apresentar-me. Sou Elvis Ferreira Meireles e, como dá para perceber, Elvis não morreu.
Desde os cinco anos de idade tenho uma bala na cabeça, que não pode ser operada, o que me deixou condenado, eternamente, à cadeira de rodas. Tenho vinte anos, moro no Rio de Janeiro, freqüentei escolas públicas, fazendo apenas provas orais, pois não consigo escrever.
Estive em Brasília, no dia 8 de março de 2005, entregando um abaixo assinado com 1.200.000 assinaturas, pedindo mudanças urgentes na legislação penal. Fui junto com o pessoal do Gabriela - Sou da Paz. Lá ouvi muitas vezes ser pronunciada a palavra Justiça, embora não entenda muito bem o que ela signifique. Ouvi também uma frase poderosa: todos nós somos iguais perante a lei. Por isso, resolvi lhe escrever.
A igualdade que pleiteio é a de ser tratado como criminoso e não como vítima. Necessito de fisioterapia permanente e, meu deslocamento precisa ser feito em cadeira de rodas, pelos ônibus dessa cidade, tornando-se uma provação, para mim, para meus familiares e para as pessoas que se comovem com minha situação e me ajudam. Gostaria de receber, como os presos, transporte gratuito e exclusivo, com acompanhamento de um funcionário público para me ajudar e de horário privilegiado na assistência médica.
D'outra sorte, se somos como diz a lei, todos iguais, gostaria de receber também o Auxílio-Reclusão, a que têm direito os presos, para ajudar seus familiares. Aqui sim, tenho certeza, posso preencher bem o espírito da lei. Tenho dificuldade de gerar renda, tenho necessidade material desse recurso e estou impossibilitado de fugir. Sou e serei eternamente recluso a essa cadeira de rodas, dela não podendo me afastar, em qualquer circunstância.
Sei que não preencho todos os requisitos para receber o benefício legal, pois não roubei, não matei, não violentei, não seqüestrei, nem pratiquei qualquer crime enunciado no Código Penal, mas conto com sua sensibilidade e sua militância no grupo de Direitos Humanos, quiçá minha realidade possa comovê-lo.
Nestes termos peço e espero deferimento.
P.S: conheci o jovem Elvis em 2005, em Brasília. Os fatos que dizem respeito a ele são verdadeiros. Todo o mais é liberdade literária e corre por minha conta".
4 comentários:
Neste país, o errado torna-se certo! A terra de Zé Carioca sempre vai achar graça na malandragem. E o pior que isso não vai mudar.
É deveras, meu amigo Márcio, é deveras... Alguma coisa anda errada quando a caridade (?) humana é dirigida apenas ao criminoso, enquanto a vítima só tem o direito de ficar calada. Um abraço!
Caro Adriano,
até já escrevi em meu blog sobre tais aberrações, inclusive dizendo que o preso que paga INSS, ao invés de auxilio reclusão, quando afetasse direito de terceiro (vítimas), tal verba deveria ser destinada a ela, como compensação.
Tem horas que esses legisladores (deputados e senadores) parecem que só vêem o seu...ops..o lado do bandido!
Abraços e fiquei contente com a colocação do ConsiderandoBem como favorito. Obrigado
Fernando Zaupa
C.Grande-MS
Muito Bom!!!!
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