quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Elvis não morreu

Com esse texto, capturado do blog do presidente na ONG Brasil Sem Grades, nos despedimos por um breve período 10 (dez) dias. Retornaremos pouco depois do carnaval, quando Diamantina voltar a proporcionar ares civilizados.


"Elvis não morreu" - por Luiz Fernando Oderich

"Ilustríssimo Senhor Doutor Juiz de Direito...

Vara de Execução Criminal...

Permita-me apresentar-me. Sou Elvis Ferreira Meireles e, como dá para perceber, Elvis não morreu.

Desde os cinco anos de idade tenho uma bala na cabeça, que não pode ser operada, o que me deixou condenado, eternamente, à cadeira de rodas. Tenho vinte anos, moro no Rio de Janeiro, freqüentei escolas públicas, fazendo apenas provas orais, pois não consigo escrever.

Estive em Brasília, no dia 8 de março de 2005, entregando um abaixo assinado com 1.200.000 assinaturas, pedindo mudanças urgentes na legislação penal. Fui junto com o pessoal do Gabriela - Sou da Paz. Lá ouvi muitas vezes ser pronunciada a palavra Justiça, embora não entenda muito bem o que ela signifique. Ouvi também uma frase poderosa: todos nós somos iguais perante a lei. Por isso, resolvi lhe escrever.

A igualdade que pleiteio é a de ser tratado como criminoso e não como vítima. Necessito de fisioterapia permanente e, meu deslocamento precisa ser feito em cadeira de rodas, pelos ônibus dessa cidade, tornando-se uma provação, para mim, para meus familiares e para as pessoas que se comovem com minha situação e me ajudam. Gostaria de receber, como os presos, transporte gratuito e exclusivo, com acompanhamento de um funcionário público para me ajudar e de horário privilegiado na assistência médica.

D'outra sorte, se somos como diz a lei, todos iguais, gostaria de receber também o Auxílio-Reclusão, a que têm direito os presos, para ajudar seus familiares. Aqui sim, tenho certeza, posso preencher bem o espírito da  lei. Tenho dificuldade de gerar renda, tenho necessidade material desse recurso e estou impossibilitado de fugir. Sou e serei eternamente recluso a essa cadeira de rodas, dela não podendo me afastar, em qualquer circunstância.

Sei que não preencho todos os requisitos para receber o benefício legal, pois não roubei, não matei, não violentei, não seqüestrei, nem pratiquei qualquer crime enunciado no Código Penal, mas conto com sua sensibilidade e sua militância no grupo de Direitos Humanos, quiçá minha realidade possa comovê-lo.

Nestes termos peço e espero deferimento.

P.S: conheci o jovem Elvis em 2005, em Brasília. Os fatos que dizem respeito a ele são verdadeiros. Todo o mais é liberdade literária e corre por minha conta".

4 comentários:

Unknown disse...

Neste país, o errado torna-se certo! A terra de Zé Carioca sempre vai achar graça na malandragem. E o pior que isso não vai mudar.

Adriano D. G. de Faria disse...

É deveras, meu amigo Márcio, é deveras... Alguma coisa anda errada quando a caridade (?) humana é dirigida apenas ao criminoso, enquanto a vítima só tem o direito de ficar calada. Um abraço!

Fernando M. Zaupa disse...

Caro Adriano,
até já escrevi em meu blog sobre tais aberrações, inclusive dizendo que o preso que paga INSS, ao invés de auxilio reclusão, quando afetasse direito de terceiro (vítimas), tal verba deveria ser destinada a ela, como compensação.
Tem horas que esses legisladores (deputados e senadores) parecem que só vêem o seu...ops..o lado do bandido!
Abraços e fiquei contente com a colocação do ConsiderandoBem como favorito. Obrigado
Fernando Zaupa
C.Grande-MS

Anônimo disse...

Muito Bom!!!!